Não fossem uns amigos pegar na minha mão, nunca teria tido conhecimento da exposição patente na Biblioteca Municipal de Serpa.
A maravilhosa obra é da autoria da Maria Rita Cortez, uma senhora de 83 anos, reformada, e que pacientemente vai juntando retalhos, todos cosidos à mão, relatando assim o quotidiano alentejano. Os pormenores são extraordinários.
Uma exposição a não perder porque raramente nós é dado a ver trabalhos feitos por mulheres, confinadas nas suas casas.
Até sábado, dia 3 de Junho de 2017
Biblioteca Municipal Abade Correia da Serra
em Serpa
10h00 - 13h00 e 14h30 - 19h00
15 dias longe de casa, longe do "atelier", longe de me sentar para escrever umas linhas mas mais perto das minhas filhas que se instalaram definitivamente na capital.
Houve um fim de semana em que juntei as 3 irmãs e juntas fomos a Folio de Óbidos. Cruzamos a Zélia, a Rita e conheci finalmente a Rute.
Vi a semana a passar a um ritmo alucinante, numa cidade frenética.
Para colmatar a falta duma cantina na nova escola da Ju. (confesso, a alimentação é algo que me preocupa), procurei perto de casa delas, no comercio local, produtos de qualidade a preço justo.
Foi num acaso dos meus passeios madrugadores, seguindo de perto umas velhotas que surpreendi-me com uma mercearia de bairro, gerida por uns chineses, com leguminosos frescos e frutos de época, todos (ou quase) de origens portuguesas. Não fazia ideia que se produz em Portugal umas mangas, certa muito pequenas mas deliciosamente boas!
No fim de semana passado, foi a vez de juntar a família, com os avós também. Uma viagem a sul, tempo para uma refeição, desfrutando dum sol convidativo à beira mar.
Antes de regressar para o sossego das grandes planícies alentejanas, remendei o blusão de ganga e deixei ficar uma almofada construída à partir de restos de algodões brancos.
Ando a construir os meus dias. A redefinir os meus próprios objectivos. Ser mãe presente mas a distancia não está a ser fácil!
Uma casa vivida, esvaziada dos seus habitantes.
Entro, porque sou curiosa. Porque gosto de ver o lugar que é e gosto acima de tudo imaginar o potencial da casa.
Errei na profissão. Também não a tenho mas hoje não tenho dúvidas, reconstruiria lugares para se tornarem habitáveis, agradáveis. A casa é o porto de abrigo e tem de ser estimado.
Como digo, entro. Acima de tudo, sou curiosa e tento responder às perguntas que me assaltam a cada olhar, em cada recanto.
Espreito à janela. O apartamento domina a cidade. Haveria luz e no entanto tudo é obscuro. Como os objectos que ali ficaram, como as paredes esburacadas, a pedra mármore martirizada, o soalho maltratado, a madeira rachada.
A imundice não me impediria de recriar o espaço mas a obra não é minha.
Eu só lá entrei, porque sou curiosa.
Há uns anos para cá, acentuou-se a necessidade de quebrar as rotinas escolares refugiando-me com a família à beira-mar.
Retemperar as energias, esquecer os horários e fazer de conta que o carro não existe.
É um luxo ir a pé ou de bicicleta até a praia. Como também considero um luxo ter espaço à volta da minha toalha e poder ouvir o vento e o quebrar das ondas fundindo-se nas minhas leituras ou pensamentos.
Fujo das praias barulhentas.
Estive quase duas décadas sem voltar à ilha.
Um dia perfeito a ver passar os veleiros na Ria Formosa e os golfinhos no mar e um areal imenso só para os amantes da natureza.
Sempre achei graça às casas, aos passeios e pequenos jardins.
Pela primeira vez, não pernoitei lá. Apanhei o barco deixando para trás um farol na ilha.
Prometi levá-la a neve.
Afinal é só uma subida para a Serra desde casa até ao topo.
Não gosto da confusão da Páscoa, dos carros, das multidões. Indo por atalhos, ao nosso ritmo, a paisagem encanta (sempre).
Prefiro escutar o silêncio das altitudes, ouvir a neve derreter tombando dos ramos enregelados.
Mas após várias paragens, era inevitável chegar à Torre e misturar-me entre todos.
Nesse dia, apercebi-me que a neve tem o efeito de fazer as pessoas felizes.
Volta e meia regresso à Cooperativa de Tecelagem de Mértola. Gosto de ver as tecedeiras em actividade, de ouvir o bater do tear neste espaço museológico.
Na minha última passagem enamorei-me dumas meias de algodão.
Os dois primeiros pares chamaram-me a atenção, pelo comprimento, pelas cores e pela beleza dum trabalho feito e tricotado à mão.
Houve um tempo em que as mulheres não usavam calças para ceifar ou para mondar. Calçavam meias de algodão até a altura das coxas, presas por elásticos ou por fitas de nastra debaixo das saias. Mais tarde, com o aparecimento das calças, as meias passaram a ser usadas mais curtas. Com o tempo, o uso e as lavagens (não havia máquina de lavar a roupa) as meias iam perdendo a cor e ficando gastas, sobretudo nas partes do calcanhar e eram parcialmente desmontadas para voltarem a ser tricotadas com um fio novo. Não se tratando dum remendo, chamavam-lhe "encabeçar a meia". É por esta razão que uma grande parte das meias acabam por ter várias tonalidades.
Chegam às mãos das tecedeiras de Mértola pares de meias de algodão que pacientemente vão desfazendo para criarem novos novelos que, mais tarde, serão tecidos para dar forma a novas toalhas. O fio extraído da meia apresenta-se matizado, conferindo à peça tecida cores subitamente tão bonitas e únicas.
Utilizar, reciclar, reutilizar.